sexta-feira, 27 de maio de 2016

Confiança - por Monja Coen

Texto da Monja Coen publicado no jornal O Globo de 12/11/2015


Unir, fiar, tecer, juntar, fortalecer para o bem de todos os seres. Sem perdedores. Que tal acreditar?

Há fiança para o crime da descrença na vida e na imprensa? Confiança é fiar junto. Estamos fiando juntos a vida na Terra? Com certeza.

Mas que fios estranhos e sinistros são esses, reis, imperadores, guerreiros, senhores, governantes, ministros? Que notícias descontentes, sem empenho em ser decentes, apenas manipulando a própria mente.

Mente que mente por trivialidades, poderes transitórios, arroubos partidários. No mundo, gente. No mundo.

Futebol, circo, navios, guerras, bombas, países, aviões e armas. Quem fala em desarmar é tido de covarde, bobão, tolo.

Defender e lutar. A luta armada já passou e deixou tristezas e mágoas. Agora é época de não lutar mais. Será que a gente nunca aprende?

Unir, fiar, tecer, juntar, fortalecer para o bem de todos os seres. Sem perdedores. Todos ganham juntos. Que tal vir brincar essa antiga e nova brincadeira de fiar, de confiar, de acreditar?

Tecendo com fios de seda, brilhantes e multicoloridos, a esperança de reconhecermos juntos a nossa humildade, Humanidade, o nosso húmus da Terra, da qual somos filhos e filhas.

Mãe, eu não queria tê-la feito sofrer e chorar. Família em luto na luta dos desencontros. Na briga e nos confrontos, sem despertar. Separa ação. Tristeza. Poderia ser uma grande e única nação.

Fiar é dar a palavra, reafirmar a palavra dada.

Há quem não venda fiado, pois já não se confia em mais nada. Antes se confiasse no nada, no vazio, na certeza da incerteza.

Há fiança para a desconfiança? Fiança é cavalo querido, todos os cavaleiros o apreciam, é confiável. Quem é o cavalo da hora? O fiança, a fiança do agora? Está no céu ou no mar? Perdeu-se na nuvem polar? Está entre os inovadores ou entre os conservadores? Queria tanto reencontrar Fiança.

Poderia sair galopando faceira pela Terra inteira. Nada me impediria de chegar aonde quer que fosse para levar a notícia de que os seres humanos se reconheceram. Ao se reconhecerem, se respeitaram. Ao se respeitarem, passaram a cuidar da vida que palpita em cada molécula, átomo, partícula.

Ah, Fiança, por que caminhos se enroscou

minha montaria?

Será que alguém o escondeu?

Vamos pensar que o estão tratando bem. Afagando seu pescoço, penteando sua crina, dando banho, passeio, carinho, cenoura, comida da boa. Esse pensamento me conforta.

Pois Fiança me espera para que juntos possamos unir os corações em concordância, recordar e lembrar de cor, buscar na grande memória a coragem de fiar.

Fiar com fios mágicos os corações rotos, partidos, quebrados. Para que fiquem novamente unidos no compromisso de fidelidade, no ato de confiar na análise verdadeira dos fatos.

Poder ver em profundidade. Compreender claramente e desabrochar em fragrância na primavera itinerante que se abre aqui e ali.

Vou cobrir essa fiança e demonstrar a inocência da decência da vida e da imprensa, da mídia e da mente humana, que, no fundo, bem no fundo, anda carente de saudades de juntos fiarmos a trama da existência.

Mãos em prece!

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Acomodando os Outros por Swāmi Dayānanda Saraswati

"De muitas maneiras, todos interfere na vida de todo mundo. Todo mundo cria um efeito global em suas ações. Normalmente, nós apenas olhamos as coisas de uma pequena perspectiva, e encontrar a pessoa que estamos com raiva com iminência grande antes de nós.

Na verdade, nunca estamos livres da influência de alguém ou de todas as forças do universo; nem podemos executar uma ação sem afetar todos os outros. Até mesmo nossas demonstrações afetarão os outros. Portanto, a nossa liberdade deve incluir o fato de que estamos todos interligados.

Mesmo o Swāmi (renunciante) não é livre. Um casal passou por mim quando eu estava em um jardim zoológico, e o homem comentou com a sua parceira, "Olhe para este." Eu era o único com essas roupas estranhas para ser olhado. As pessoas muitas vezes fazem tais comentários.

Eu tento não perturbar as pessoas, mas parece que as minhas roupas, as vestes tradicionais de um renunciante, causam uma ligeira perturbação. Eu tomei uma decisão (ser um renunciante), e ela definitivamente afetar outros pessoas.

Se estou incomodado com os comentários dos outros, então eu ganho somente tanta liberdade quanto eles me concedem. No entanto, se eu reverter o processo, se eu dou a liberdade para outros para serem o que eles são, nessa medida, eu sou livre. Então, eu não discuto com eles. Minha liberdade é a liberdade que eu dê a eles para terem a sua opinião sobre mim, que é diferente da realidade.

Assim, há vantagens em ACOMODAR as pessoas como elas são.

Se alguém faz um comentário sobre você, deixe ele fazer isso. Se o comentário não é verdade, você geralmente tenta justificar suas ações e provar que ele estava errado. Se você é objetivo, você vai tentar ver se há alguma validade na crítica sobre você. Se ele colocou você para baixo para própria segurança, dê a essa pessoa essa liberdade e, em seguida, você está livre.

Que aperto pode fazer para um parafuso quando os fios não estão lá?

O mundo pode incomodá-lo apenas na medida em que você permite que o mundo incomode você. Você não permite que o mundo incomode se você dá ao mundo a liberdade para fazer o que quiser dentro da regra da sociedade.

Mudando totalmente a si mesmo dessa forma você ganha, de acordo com o seu valor para a acomodação, relativamente permanente no contentamento e liberdade.

Praticando a acomodação você chega a um acordo com você mesmo psicologicamente, com você mesmo como uma personalidade.

Isso é o que chamamos Yoga-Sadhana (prática de Yoga).”

(Acomodação = prestativo e disposto a fazer o que a outra pessoa quer.)



tradução feita por Vicente Morisson


Retirado da página do facebook Tradição Védica
www.facebook.com/tradicaovedica

sábado, 14 de maio de 2016

"Não dá para preencher a vida com bares, novela e internet", diz Monja Coen

por Karin Hueck

Claudia Dias Batista de Souza é o nome de batismo da Monja Coen. Antes de se tornar a mais famosa praticante e líder budista do Brasil, ela foi gente como a gente – talvez até um pouco mais louquinha. Prima de Sergio Dias e Arnaldo Batista, dos Mutantes, Coen foi casada algumas vezes – uma delas, com o iluminador dos shows do Alice Cooper – e acabou presa na Suécia por tráfico de LSD. Foi apenas aos 36 anos que ela começou a meditar. E nunca mais parou. Nessa entrevista, ela fala sobre os caminhos internos para a felicidade, sobre autoconhecimento e transcendência, e sobre como não recomenda mais o uso de drogas para se aproximar de Deus.

Quais são as maiores diferenças no conceito de felicidade na filosofia ocidental e na oriental?
​A palavra felicidade, em português, tem sua origem nas palavras “fertil” e “frutífero”. O que frutifica nos faz bem. Plantas, árvores, ideias, filosofias, trabalho, propostas, casamento e assim por diante – todos esses elementos podem deixar alguém feliz. Tanto no Oriente como no Ocidente, seres humanos – se não despertarem para a mente suprema – podem ser manipulados ou podem acabar manipulando outras pessoas em propósitos egoicos, que só atendem a si mesmas. Eu sinto que sair do eu auto-centrado e se dedicar ao Eu maior é a própria felicidade – e isso tanto no Ocidente quanto no Oriente. Talvez os métodos educacionais sejam diversos: o Ocidente sempre foi mais centrado no eu individual do que o Oriente, que costuma considerar a coletividade em primeiro lugar. Mas isso não quer dizer que um é melhor do que o outro. Não se iluda, tanto no Oriente quanto no Ocidente, a maioria das pessoas atualmente se desgasta em preocupações relacionadas a bens materiais apenas e, quase nunca, encontram a plenitude do Eu Maior.​

Por que, na sua opinião, tantas pessoas procuram o zen-budismo para alcançar uma vida mais “plena”? Qual é o principal apelo dessa filosofia?
​A prática essencial do Zen é a meditação sentada, o conhecer o nosso próprio Eu, ao mesmo tempo em que esquecemos do eu. É a prática de deixar-se iluminar por tudo que existe. Perceber que estamos conectados a toda vida da Terra. Comunhão e encontro com a Verdade​ e o Caminho.​ E isso tem um grande apelo.

Por que, como você acabou de dizer, as pessoas se preocupam tanto com bens materiais? Na sua opinião, por que confundem felicidade com prosperidade financeira?
​Porque há pobreza, carência, miséria, desnutrição, fome. Se as necessidades básicas de sobrevivência não forem atendidas, não somos capazes de nem mesmo orar. Isso é universal. O resultado dessas lógica é que acabamos nos prendendo a essa etapa de auto sustentabilidade e muitas vezes nem percebemos que já estamos com as necessidades básicas atendidas e ainda falta alguma coisa. Tentamos preencher com novelas, programas, amigos, bares, internet, mas continua faltando. Algumas pessoas procuram o caminho do auto conhecimento, que é o conhecimento da vida, da sacralidade da existência, da rede de causas, condições e efeitos. Algumas pessoas procuram pela compreensão do significado da existência. Outras apenas vivem​ ​se distraindo das questões básicas da mente humana, querendo apenas rir, se divertir. Isso faz com que muitas pessoas sofram com essa situação, por não penetrarem no sentido mais íntimo do ser.​

Preocupar-se com felicidade é uma noção válida? Você se preocupa em ser mais feliz?
​Preocupar-se nunca é válido. Ocupar-se sim. Ocupar-se em fazer o seu melhor a cada instante e despertar para a mente de sabedoria perfeita é o caminho do Nirvana, é a felicidade verdadeira. Então, pratico os ensinamentos de Buda, sem me preocupar, mas me ocupando com a verdade e esse caminho.​

Você fala muito da violência que existe ao nosso redor. De onde ela vem? Como ela interfere na nossa felicidade?
A violência existe. Seu oposto, a não-violência também. Dentro e fora de cada ser humano. Quando somos capazes de transformar a raiva em compaixão, tudo cessa. Quando abandonamos um “eu” que precisa ser defendido, que não pode ser magoado​ ​e assim por diante, percebemos que estamos muito além das provocações internas e externas. Mas só conseguimos praticar isso com prática incessante.​ Certa feita, Sua Santidade o XIV Dalailama, disse algo como: “Compaixão nem sempre é visceral. Temos de utilizar a mente para desenvolver a capacidade de compreender a quem nos ofende ou provoca.” Isso tem a ver com as conexões neurais. Todos nós nascemos com todos os neurônios possíveis, mas, se não os estimularmos, eles não se conectam. Se formos treinados a fazer conexões neurais de violência, briga, raiva, rancor, temor e assim por diante, essa trilha se torna uma auto-estrada, uma rodovia. Para fazer novas conexões temos de nos esforçar a conectar com amor, compreensão, ternura, assertividade, destemor e assim por diante.

Você teve diversas profissões antes de se tornar monja (inclusive jornalista como nós). O que diria que tirou de cada uma delas?
​Experiências, questionamentos. Fui repórter do Jornal da Tarde, da editoria de Geral. Isso significa que eu cobria todos os assuntos possíveis por todo o Brasil. Foi uma época de um despertar claro e profundo sobre valores diversos em vários níveis sociais. E de conhecer os seres humanos – dos mais ricos e poderosos aos mais pobres e humildes – procurando a felicidade e a estabilidade física, material, psíquica, espiritual. Depois fui ser professora de Inglês e com isso passei a conhecer melhor a maneira de pensar dos povos de lingua inglesa. É tudo diferente de quem fala português: a lógica, a filosofia, a maneira de ser. Fui também secretária do Banco do Brasil, em Los Angeles, e pude cortar quaisquer resquícios de discriminação preconceituosa que tinha quanto ao fato de ser secretária. Percebi a importância das secretárias nas empresas. Gerentes, diretores não seriam capazes de atuar sem suas/seus secretários. Um governo não funciona sem suas secretarias. Assim, em cada oportunidade pude aprender e transformar conceitos deludidos em experiência pura.

Em que momento – e qual foi a importância deste momento – que você percebeu que deveria se tornar monja?
​Passei a meditar de forma regular, em Los Angeles, onde residia. Percebi que a meditação Zen era o Caminho que eu queria dar ao que restava de minha vida. Tinha 36 anos de idade.​

Você disse em algumas entrevistas que tomou LSD e chegou a experiências religiosas intensas com ele. Você acha que as drogas são uma forma de transcendência? Vê alguma validade nisso?
​Tudo depende de quem as usa e com que propósito. Na minha juventude, eu procurava por Deus. Não procurava por sexo, diversão, brincadeira ou prazer de qualquer espécie mundana. Hoje eu não recomendo uso de drogas​ ​ou de qualquer tipo de substância para alcançar a transcendência. Basta respirar conscientemente. Basta sentar em silêncio, na postura correta, para acessar o Eu além do eu. Podemos ter o encontro com a Natureza Buda – que é talvez o que tradições monoteístas chamam de Deus – através do silêncio, da meditação profunda e da respiração tranquila.​ Mas isso requer persistência, paciência e entrega, e deve ser através de orientação de pessoas que tiveram a experiência sagrada. Não é algo que se possa tentar sozinha. É preciso seguir determinados procedimentos para esse encontro. Da mesma maneira, se combinarmos um encontro com alguém teremos de saber o local, o horário e o caminho para chegar até lá. É preciso ter uma rota. As tradições meditativas, religiosas, espirituais têm sistemas muito antigos e hábeis para conduzir os seres humanos ao verdadeiro Encontro. É preciso escolher uma tradição e seguir seus ensinamentos, sem desistir quando ps obstáculos surgirem.

Felicidade é um valor importante? Há outros mais importantes?
​Felicidade, paz, Nirvana, quietude adquirida através da sabedoria perfeita, clareza, transparência, ética, prática incessante da vida iluminada.​

Você se considera uma pessoa feliz?
​Sou feliz.




sábado, 7 de maio de 2016

As mães dos Mestres

Pensando em uma maneira de homenagear às mães me deparei com este texto sobre as Mães de alguns Mestres e achei interessante compartilhar a leitura com vocês.

Falar sobre as mães de grandes mestres da Humanidade é a forma mais genuína de homenagear todas as mães, afinal, mãe é mãe.

Um Feliz dia das Mães para vocês!

Apreciem a leitura!


PARAMAHANSA YOGANANDA

“Toda mulher é, para mim, uma representante da Mãe. Vejo a Mãe Cósmica em todas”, 
disse o mestre iogue Paramahansa Yogananda. 

 A profunda ligação que o indiano tinha com a sua mãe, no entanto, era bem especial. Logo no início

do clássico espiritual que o tornou conhecido no mundo todo, o livro “Autobiografia de um Iogue”, ao retratar o período da infância, ele enaltece a figura de Gyana Prabha: “…Era uma rainha de corações e nos educou inteiramente pelo amor.”. Através dela, Yogananda entrou em contato com as tradicionais escrituras sagradas de seu país. “Ela recorria ao Mahabharata e ao Ramayana para dali retirar histórias adequadas às exigências disciplinares.”. 

Junto do pai, Bhagabati Charan Gosh, Gyana levou o filho, ainda bebê, para o guru Lahiri Mahasaya abençoar. Na ocasião, Lahiri lhe disse: “Mãezinha, teu filho será um iogue. Como uma locomotiva espiritual, conduzirá muitas almas ao reino de Deus.”. A profecia se cumpriu e, onde esteve, Yogananda propagou a mensagem divina comprometido com a linhagem de gurus da qual fazia parte e honrando a seus pais, por quem sempre teve profundo respeito e amor.



GANDHI

Mahatma Gandhi foi um dos maiores líderes pacifistas da história. À frente do movimento pela libertação da Índia da colonização inglesa, reuniu milhares de pessoas em prol de uma disputa memorável na qual a resistência física e a inutilização de qualquer tipo de arma tornaram-no um grande herói da humanidade. Ele também tinha um carinho especial por sua mãe, como se lê no trecho de sua autobiografia.

“Minha mãe deixou uma impressão marcante em minha memória: a de que era uma santa. Na verdade, era uma pessoa extremamente religiosa e não fazia uma refeição sem rezar. Uma de suas atividades diárias era frequentar o haveli. Pelo que me recordo, nunca deixou de completar os chaturmas (período sagrado de quatro meses de moderação e prática espiritual ). Fazia as promessas mais difíceis e as cumpria sem hesitar. A doença nunca era motivo para deixar de realizá-las. Lembro-me de uma vez em que, mesmo enferma, seguiu à risca os votos do chandrayana. Jejuar dois ou três dias consecutivos não era nada para ela, e fazer somente uma refeição diária durante os chaturmas tornara-se um hábito.

Não contente, uma vez, durante um chaturma, jejuou em dias alternados. Em outra, prometeu não comer senão em cada aparição do sol. Nesses dias, eu e meus irmãos pequenos ficávamos mirando o céu, esperando o sol surgir para avisá-la. Todos sabem que durante o pico da estação chuvosa o sol nem sempre aparece. Lembro-me de alguns dias em que, quando surgia repentinamente no céu, corríamos para chamá-la e ela saía para ver com seus próprios olhos. Quando chegava, o sol já havia sumido e ela ficava sem comer.

– Não importa – dizia com alegria no coração –, Deus não quer que eu coma hoje. – E voltava para seus afazeres.”

No período em que esteve na cidade londrina, a fim de estudar Direito, muitas foram as dificuldades enfrentadas pelo indiano. A adaptação a uma nova cultura e os preconceitos sofridos em função da sua nacionalidade eram apenas alguns dos obstáculos, como se lê neste outro trecho: “O amor de minha mãe não me saía da cabeça, e à noite vinham-me lágrimas nos olhos e não conseguia pegar no sono.”


JESUS

Muito embora sejam poucas as passagens em que Maria aparece no Novo Testamento, do que se sabe é possível admirar. Alguém que abrigou em seu ventre o Mestre Jesus haveria de ser muito especial.

A última menção ao seu nome na Bíblia se dá na crucificação do filho. Ela, junto de outras três mulheres (sua irmã, a mulher de Cleofas, também de nome Maria e Maria Madalena), além do discípulo João, acompanharam o acontecimento profundamente consternados. Jesus, ao olhar para a mãe e vê-la chorar, confortou-lhe apontando para João, dizendo: “Mulher, eis aí teu filho!” e a João, ele falou: “Eis aí tua mãe!”. Ambos poderiam se amparar um no outro.

A cena em que Maria envolve o Cristo em seus braços, após horas de martírio, foi eternizada pelo escultor e pintor italiano Michelângelo. “Pietá”, criada no século XV – apesar de remeter a um episódio doloroso – é uma bela e contundente representação do amor materno.





Retirado em 06/05 de http://www.culturadapaz.com.br/as-maes-dos-mestres/

quarta-feira, 4 de maio de 2016

O Fechamento de um Ciclo e Sempre uma Oportunidade de Renascimento Interior

Por Soraya Rodrigues de Aragão

A vida é a nossa grande mestra. Tudo o que nos acontece, está de algum modo nos favorecendo, seja para nos melhorarmos, seja para nos despertarmos da nossa zona de conforto, ou mesmo para adquirirmos alguma habilidade ou mudarmos algum aspecto. O proposito é sempre o aprimoramento.

Geralmente, nos sentimos propensos ou motivados a realizar mudanças significativas em nossas vidas quando estamos insatisfeitos, quando as condições em que vivemos não correspondem mais as nossas expectativas.

Não há necessidade de datas para nos renovarmos. Tem certos momentos na vida que por si mesmos são verdadeiros marcadores que sinalizam o fechamento de um ciclo, quer aceitemos ou não.

Precisamos desenvolver nossa “escuta interior” e através da nossa capacidade de compreensão, termos lucidez e sensibilidade para aceitarmos que algo já se deteriorou. A partir desta percepção, é possível nos reposicionarmos e nos readaptarmos para darmos boas vindas ao “novo”, com suas infinitas possibilidades. Muitas vezes, a vida não convida, mas intima a atualizações necessárias para nosso próprio progresso, enviando-nos sinais que muitas vezes recusamos admitir e que tem um proposito maior: passar para uma etapa seguinte. Não estamos atentos a estas leituras ambientais ou simplesmente as ignoramos, pois não nos interessa sair de nossa comodidade, da nossa zona de conforto, mesmo que deteriorada. Estamos ali, agarrados a qualquer custo. Precisamos nos desvencilhar do que se deteriorou, seguir adiante e confiar na generosidade da vida.

Quando a vida nos sinaliza que um ciclo está se fechando, aceite o fato e aproveite para renovar suas esperanças, oportunizando-se a gestar novos propósitos e projetos de vida. Uma readaptação nem sempre é um processo fácil, visto que dispendemos muita energia emocional na reorganização do “caos” interno. Por outro lado, este é também um momento rico para iniciarmos o precioso movimento de auto avaliação e para revalidar o lugar que ocupamos ou que desejamos ocupar no mundo.

Quando um ciclo se fecha, é porque necessitamos realizar algum aprendizado naquele contexto, para passarmos para a etapa seguinte. Os processos transitórios da vida não são exatamente efêmeros, mas são etapas potencialmente criativas.

Vida é fluxo, é movimento; é a negação da estagnação das nossas crenças e percepções arcaicas como verdades absolutas que caíram por terra. Nada é definitivo, muito menos de nossa propriedade. Acreditamos que coisas e pessoas são nossas. Na vida não existem garantias, nem datas de validade.

Com o advento de uma nova fase, Iniciam-se novas oportunidades. Em contato com contingencias que proporcionam agora o florescer de uma nova consciência, nos será permitida uma maior lucidez dos fatos. Tudo isto nos oportunizará criar a realidade que tanto desejamos e que somos diretamente responsáveis. Este movimento criativo nos permite reflexões verdadeiras e profundas que nos levam a dar novos significados a nossa existência, se abrirmos mão do que se foi e darmos as boas vindas as novas possibilidades.

A nossa vida hoje é consequência de atitudes, ações, palavras e pensamentos do passado. Sendo assim, façamos valer uma realidade diferente hoje através de uma postura diferente agora. Precisamos eliminar aspectos, coisas e posturas que não nos proporcionam crescimento, que nada nos adiciona e que podem até nos criar empecilhos.

Necessário é reciclar o nosso lixo emocional, transmutar sentimentos negativos e aprender a lidar melhor com nossas inquietações e limitações para entrarmos mais leves em um novo ciclo de vida. Para que haja renovação verdadeira, de dentro para fora, é indispensável reavaliar a nossa percepção dos fatos, mas o principal de tudo para qualquer primeiro passo é nos aceitarmos como somos, momento este de “insights” para toda mudança verdadeira, pois a partir da auto aceitação, poderemos promover as mudanças que forem necessárias. Portanto, desnue-se interiormente, retire suas mascaras, se olhe de frente.

As vezes precisamos mudar rotas e trajetórias, provenientes das nossas reavaliações daquilo que já não nos serve mais. Mas nada foi perdido de todo: tornamo-nos mais vividos, mais capazes e aprimorados.

Em cada etapa da vida apostamos naquela realidade e investimos o melhor que podemos nela. Quando nos deparamos com algumas circunstancias, vislumbramos o quanto agora tudo o que foi vivido não faz mais sentido: neste momento nos damos conta que estamos em uma nova etapa de vida. A nossa maior conquista é transmutar a própria vida em constante processo de evolução e recriação de nós mesmos, colocando em pratica os valores que precisamos alimentar, nos aprimorando em todas as perspectivas e principalmente aprendendo com os erros do passado.

Somos seres itinerantes na trajetória da vida e estamos aqui para aprender, para evoluir. Só poderemos renascer para uma nova realidade se tivermos a capacidade simbólica de nos despojarmos do passado, aceitar as mortes simbólicas dos ciclos que é a própria sabedoria da vida. Recriar-se. Renascer. reinventar-se. Superar-se.

Nós, indivíduos eternos do devir, estamos sempre em processo de reflexão acerca das nossas vivencias para obter a sabedoria que precisamos e que neste mundo nunca basta. As reflexões devem ser continuas como meio preventivo para não nos depararmos com crises que poderiam ser evitadas, quando tentamos de alguma forma nos agarrar a algo que já se foi. O fechamento de um ciclo nos oportuniza revisar, ressignificar e dar um novo sentido à própria vida, colocando em pratica um novo projeto de acordo com a nossa realidade e necessidades.

Permanecer em um ciclo que já se fechou é altamente desgastante, além de se pagar um alto preço por isto. Estar aberto, disponível e receptivo para novas oportunidades e experiencias é o que a vida nos propõe ao fim de cada etapa.

Muitas vezes não estamos vivendo, mas vivenciando uma sobrevida, e não é isto o que queremos. Queremos ter uma vida plena e de qualidade, portanto deixar ir o que já está carcomido não é sinal de covardia, e sim de coragem. Coragem para dar um novo passo. Coragem para continuar a ter fé na vida, apesar de tudo.


Para refletir:

Que possamos olhar os problemas como desafios, a dor como meio de aprendizado, as mudanças como oportunidade de transformação, a insatisfação como eterna busca. Todo processo pode ser fácil ou difícil, penoso ou desafiador, de possibilidades e aprimoramentos. Depende de como você percebe cada acontecimento. E com o fechamento de ciclos não é diferente, pois ele nos oportuniza uma nova vida.

Bem vindos à renovação.