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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Acomodando os Outros por Swāmi Dayānanda Saraswati

"De muitas maneiras, todos interfere na vida de todo mundo. Todo mundo cria um efeito global em suas ações. Normalmente, nós apenas olhamos as coisas de uma pequena perspectiva, e encontrar a pessoa que estamos com raiva com iminência grande antes de nós.

Na verdade, nunca estamos livres da influência de alguém ou de todas as forças do universo; nem podemos executar uma ação sem afetar todos os outros. Até mesmo nossas demonstrações afetarão os outros. Portanto, a nossa liberdade deve incluir o fato de que estamos todos interligados.

Mesmo o Swāmi (renunciante) não é livre. Um casal passou por mim quando eu estava em um jardim zoológico, e o homem comentou com a sua parceira, "Olhe para este." Eu era o único com essas roupas estranhas para ser olhado. As pessoas muitas vezes fazem tais comentários.

Eu tento não perturbar as pessoas, mas parece que as minhas roupas, as vestes tradicionais de um renunciante, causam uma ligeira perturbação. Eu tomei uma decisão (ser um renunciante), e ela definitivamente afetar outros pessoas.

Se estou incomodado com os comentários dos outros, então eu ganho somente tanta liberdade quanto eles me concedem. No entanto, se eu reverter o processo, se eu dou a liberdade para outros para serem o que eles são, nessa medida, eu sou livre. Então, eu não discuto com eles. Minha liberdade é a liberdade que eu dê a eles para terem a sua opinião sobre mim, que é diferente da realidade.

Assim, há vantagens em ACOMODAR as pessoas como elas são.

Se alguém faz um comentário sobre você, deixe ele fazer isso. Se o comentário não é verdade, você geralmente tenta justificar suas ações e provar que ele estava errado. Se você é objetivo, você vai tentar ver se há alguma validade na crítica sobre você. Se ele colocou você para baixo para própria segurança, dê a essa pessoa essa liberdade e, em seguida, você está livre.

Que aperto pode fazer para um parafuso quando os fios não estão lá?

O mundo pode incomodá-lo apenas na medida em que você permite que o mundo incomode você. Você não permite que o mundo incomode se você dá ao mundo a liberdade para fazer o que quiser dentro da regra da sociedade.

Mudando totalmente a si mesmo dessa forma você ganha, de acordo com o seu valor para a acomodação, relativamente permanente no contentamento e liberdade.

Praticando a acomodação você chega a um acordo com você mesmo psicologicamente, com você mesmo como uma personalidade.

Isso é o que chamamos Yoga-Sadhana (prática de Yoga).”

(Acomodação = prestativo e disposto a fazer o que a outra pessoa quer.)



tradução feita por Vicente Morisson


Retirado da página do facebook Tradição Védica
www.facebook.com/tradicaovedica

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O que é Dharma?

Por Swami Dayananda Saraswati
(Palestra de Swami Dayananda proferida na Califórnia, USA, para a revista Mananam.)


A palavra dharma é derivada da raiz sânscrita dhr, que tem certo número de significados, sendo os principais "existir, viver, continuar" e "segurar, suportar, sustentar". A própria palavra dharma acabou sendo usada numa larga variedade de sentidos, a maioria relacionados com as traduções mais comuns: retidão, virtude, dever. Num sentido mais amplo, dharma refere-se à natureza ou caráter do que quer que seja. Nessa ordem de idéias, é possível falar do dharma de um objeto inanimado, ou de plantas e animais. O dharma, ou natureza, do fogo é proporcionar calor e luz. O dharma de uma vaca inclui dar leite e pastar. O dharma da vaca não inclui ficar à espreita e matar presas.

A natureza do ser humano, como ensina o Vedanta, é a plenitude absoluta. E é em relação ao indivíduo que não reconheceu sua própria plenitude que dharma pode ter diversas mudanças de significado.Todos os objetivos que alguém procura na vida cabem em quatro categorias: segurança, prazer, dharma e liberação. Os desejos de riqueza e segurança e de prazeres sensoriais são compartilhados por todos os seres vivos. Quando se trata de animais, a busca desses bens é governada pelo instinto. A vaca masca a grama por instinto, não por escolha.Toda ação envolve escolha de finalidades e meios para atingir um dado objetivo. Cada um pode agir em harmonia com sua natureza, em contato com outros indivíduos ou dentro da sociedade, ou pode não fazê-lo. Assim, para o ser humano, são valores que governam as ações ou a busca de segurança e prazer. Uma vez que valores são sujeitos a variações e mudanças, cada um deve ter um conjunto de linhas de conduta que governe seus valores. Esse conjunto - ética - é chamado dharma.

Dharma inclui tanto uma ética do bom senso, escolher minhas ações de maneira a não agredir os outros, como uma ética religiosa, que diz não me ser possível escapar dos resultados das minhas ações. Ações corretas ou incorretas levam a resultados conseqüentes, seja nesta vida ou depois dela. O quarto objetivo desejado - o que dá fim a todos os demais desejos e objetivos - é moksha, a liberação. 

Liberação e reconhecimento da própria natureza como plenitude e totalidade. A pessoa liberada, como um ser pleno, não tem mais desejos e sua vida só pode estar em harmonia com tudo que a cerca. É um exemplo vivo de dharma a ser seguido por todos. Até que se alcance essa plenitude, as leis do dharma se mantêm como linhas de ação que norteiam a vida. Vivendo uma vida reta e virtuosa, a pessoa prepara a mente para receber o ensinamento que lhe trará moksha.


Retirado em 07/09/15 de 
http://www.vidyamandir.org.br/#!texto-dayananda-/cgaa

domingo, 27 de setembro de 2015

Qual é o sentido da Vida?

Perguntaram para Swami Dayananda Saraswati:
- Swamiji, qual é o sentido da vida?

Resposta:
- Se você toma a palavra "sentido" como sendo "objetivo", o sentido da vida, certamente, não pode ser a morte. Se a morte é o sentido da vida, então, evidentemente, não preciso nascer - o objetivo sendo a minha ausência. Se me encontrava ausente antes de nascer, não preciso nascer para não existir. Assim, não posso dizer que a morte seja o objetivo da vida.

Nem posso dizer que outra coisa mais do que a própria vida seja o objetivo da vida. Por consequinte, o seu sentido ou objetivo tem de ser encontrado dentro da própria vida. Eu diria que o objetivo da vida é apenas viver. A morte acontece, mas não é o objetivo da vida. E, desde que o sentido da vida é viver, a pergunta seguinte passa a ser "o que é viver?".

Não posso dizer que estou vivo quando não estou vivo para a realidade da vida. Não estar vivo para a realidade da vida é sonhar, viver uma vida de sonhos, falsa, o que significa não viver. Por essa razão, o sentido da existência deve ser viver uma vida verdadeira. Viver é o sentido. Viver implica em uma vida com significado; de apego à verdade, uma vida onde as realidades são confrontadas.

Estar vivo, então, é estar vivo quanto às realidades da vida, às realidades de minhas buscas e de minhas lutas. Quão desejáveis são os objetivos que procuro atingir? Até que ponto serão capazes de prover o que desejo? Será que me farão uma pessoa feliz e realizada? Para que eu possa estar vivo para essas realidades, os objetivos que busco devem ser examinados e entendidos apropriadamente.

Devo também considerar a pessoa que está lutando - eu. Quão válido é lutar? Lutar implica uma pessoa insatisfeita, uma pessoa insatisfeita consigo mesma. Quão válida é essa auto-insatisfação? Com o que eu não estou satisfeito? Estou insatisfeito com o meu físico? Com a capacidade intelectual de meus pais? Estou insatisfeito com a minha competência? Estou insatisfeito com a minha mente, minha capacidade de pensar, minha memória e minhas emoções? Com o que não estou satisfeito? Se existe uma auto-insatisfação, tudo isso deve ser examinado.

Se essas realidades não são examinadas e eu busco satisfação, a minha busca não tem sentido. Essas perguntas cruciais devem ser respondidas para que possamos encontrar o sentido da vida. Devo ter um domínio sobre essas realidades. E se eu não estou satisfeito comigo mesmo, se todos esses fatores, ou mesmo alguns deles, que me constituem, não são considerados satisfatórios, como posso remediar essa situação? Será que os vários objetivos que busco me ajudarão? Terei eu, até mesmo, algum objetivo capaz de alterar a situação?

Mesmo se estivermos insatisfeitos com o nosso corpo e sua aparência, ou com nossa mente, nós não despendemos todo o nosso tempo tentando mudá-los. Isso porque também aspiramos a muitos outros fins na vida, tais como poder ou dinheiro, fama, influência e controle. Podemos esperar a mudança de nosso corpo ou mente através de alguns desses objetivos? Eu penso que não. Até agora ninguém realizou tal coisa.

Suponha que você tente mudar seu corpo, como irá fazê-lo? E mesmo que consiga fazê-lo, por quanto tempo irá conservá-lo? Tais objetivos são sem sentido. Você não pode esperar mudar o seu corpo para sempre, porque ele tem suas intrínsecas limitações. Por consequinte, ninguém vai, satisfatoriamente, mudar o seu corpo.

O que significa mudar a mente? É com a mente que estou insatisfeito? O problema é que me encontro insatisfeito comigo mesmo, não com o corpo ou com a mente. Se eu sou o corpo e a mente, então não há uma maneira efetiva de mudá-los. E se eu sou muito mais do que o corpo e a mente e estou insatisfeito comigo mesmo, então devo examinar minuciosamente o que é esse ser.

Porque as realidades envolvem aquele que com elas lida - eu, devo, em primeiro lugar, ter um comando sobre a realidade que me diz respeito. Tudo o mais vem depois e tomará conta de si mesmo. Devemos também entender as realidades do mundo, mas o sentido da vida começa comigo. Não vejo nenhum outro sentido. Nascer como uma criança significa que meu corpo está incompleto, ainda não desenvolvido. Assim como um botão tem de florescer, o corpo de um bebê tem que se tornar adulto. Por essa razão, o sentido da vida pode ser apenas viver - crescer.

A vida continua, mas primeiramente, como um ser humano com um corpo de criança, tenho que fisicamente me tornar um adulto. E desde que tenho uma mente pensante, eu deveria presumivelmente ter uma certa disciplina para aprender - o que também é crescimento. Conseqüentemente o crescimento em si mesmo seria o sentido da vida.

Uma vez que eu tenha crescido fisicamente, sou considerado um adulto. Entretanto, há uma outra área de crescimento denominada crescimento interior, crescimento emocional ou crescimento moral, que está centrada em minha vontade. Este crescimento, também, é o sentido da vida. Tenho que crescer até atingir a minha realização. O sentido da vida, portanto, é tornar-se um ser humano pleno e completo.

Obviamente, maturidade implica na estima de nós mesmos e do mundo. Se nos sentimos perseguidos pelo mundo, esse senso de perseguição vem ou de nós mesmos ou do mundo externo. Se o mundo não me oprime mais do que a outrem qualquer e, ainda assim, me sinto perseguido, então eu deveria saber que o sentimento de perseguição vem de mim mesmo. 

Conquanto essa condição possa ser chamada de doença mental, eu a chamo de imaturidade emocional porque o problema é próprio de uma criança, ainda que a pessoa com o problema tenha um corpo de adulto e, até certo grau, uma mente adulta. As situações vividas por essas pessoas são, todas, condizentes com a fase adulta. Ela não é mais protegida por seus pais, nem é mais necessário este tipo de proteção. A pessoa, fisicamente, biologicamente, é um adulto. Pode já ter se casado, ser pai/mãe ou avô/avó. Mesmo assim a criança de seu interior ainda parece ter uma influência sobre a pessoa, governando seu comportamento e reações frente ao mundo. 

O que estou dizendo é que algo que aconteceu a essa pessoa, quando criança, não foi trabalhado. A percepção infantil é inevitável. O problema é comum a todos, não há exceções. Durante o seu desenvolvimento a criança descobre um ego. No segundo ano de sua vida, esse ego é absoluto. É por isso que o segundo ano de vida de uma criança é às vezes chamado como o "Terrível Dois" (em inglês, Terrible Two). No terceiro ano, porém, a criança descobre outros egos, algo que é também muito humilhante e submisso. 

Como criança, você constata que sua mãe tem seu próprio ego e seu pai, o dele. Todos à sua volta têm um ego e quando você vai para a escola, está cercado por nada mais que egos - cada um dos quais você considera bastante desconcertantes, pois você acaba de sair de um ego absoluto. Um ego absoluto é como o ego do Senhor. Partindo desse ego, você se encontra em um estado onde reconhece todos esses egos - sem ter nenhum dado para lidar com eles. 

A descoberta de todas essas mentes e idéias conflitantes é um estágio muito confuso de seu desenvolvimento. Existe também um natural temor. Você se sente ameaçado por todos que o rodeiam por serem todos tão grandes. Você se admira, como se admirou o jovem escolar em Village Schoolmaster, de Goldsmith, que tanto material pudesse sair da cabeça tão pequena do professor. Esse é exatamente o ponto de vista de uma criança quando se confronta com os gigantes do mundo, todos eles parecendo saber tanto. 

A criança não sabe que essas pessoas são igualmente confusas. Ela julga que todos são o máximo em tudo e os respeita a todos, ainda que eles, também, tenham de lidar com os seus próprios problemas da infância. Caso não os tenham trabalhado, carregam necessariamente dento de si uma criança. Um pai de uma criança carrega sua própria criança, o mesmo ocorrendo com a mãe da criança. Conseqüentemente, cada um é, ao mesmo tempo, uma criança e um adulto. Essa pessoa criança-adulta está presente em toda sociedade. 

Em tal sociedade, há naturalmente prováveis situações conflitantes e a criança tem que lidar com todas elas. Baseada nessas situações, ela aprende a confiar deveras no mundo ou, definitivamente, a não confiar. Uma criança que muito confia pode ser abusada por outro, ao passo que uma criança que não confia no mundo vai pensar: "O mundo está sempre lá fora para me pegar". Esta resposta conduz a problemas que os psicólogos chamam de distúrbios de caráter. 

Um problema comum é o sentimento de culpa. Uma criança cujos pais brigam todo o tempo pode pensar que é a responsável e sentir-se culpada. Tais conflitos criam uma baixa auto-estima e levam a uma espécie de neurose, um problema psicológico que todos, em certo grau, têm. Essa desordem continua pela vida afora, arruinando também a percepção do adulto. 

Quando você vai tratar dessa desordem? A menos que olhe para você mesmo, como irá lidar com isso? Eis aqui onde entra a maturidade emocional. Você pode resolver problemas de infância através do entendimento de todo o processo, reconhecendo tudo que aconteceu e observando o passado que foi enterrado. Você apenas aceita o que aconteceu antes, bom ou ruim. Tratar de problemas que existem, referentes ao passado, é ter uma certa maturidade. É um modo maduro de ver-se a si mesmo. 

Então, mais uma vez, você olha o mundo do mesmo modo. De fato, se você pode simplesmente aceitar seu próprio passado, então lhe será mais fácil aceitar também o mundo. O mundo pode apenas existir. O modo maduro de olhá-lo é não desejar o seu controle. Nem você pode controlá-lo. Se você quer controlar o mundo, mas é incapaz, você se sente controlado. Você pode agir no mundo, mas não pode ter sobre ele um controle absoluto. Um dos traços mais predominantes nas pessoas é este: a tentativa de controlar de várias formas o mundo. Isto é o que chamamos de imaturidade. Que controle você tem? Não tem nenhum; pode apenas acomodar as coisas, entender e fazer o que puder. Certos poderes podem lhe ter sido dados para fazer alguma coisa: compreender, organizar, reorganizar e reunir tudo. Todo mundo tem certos poderes, e com esses, você faz o melhor que pode. 

Aceitação não é meramente engolir tudo; é a aceitação de uma dada situação como ela é, fazendo o que é apropriado àquela situação. Assim, agir é ganhar uma maturidade que é a maioridade emocional. Esta maturidade pode ser estendida mais adiante, incluindo um modo maduro de entender os valores, com referência à nossa interação com o mundo. 

Começar a fazer perguntas tais como: "Por quê não tenho nenhum controle?", pode também conduzir a uma apreciação de Isvara, o Senhor. Não precisamos subordinar essa apreciação à maturidade, mas pode ser visto também dessa maneira; nessa aceitação de Isvara reside um outro aspecto de um modo de viver maduro. Aceito Isvara, o Senhor, porque não tenho nenhum controle. Quando não tenho nenhum controle, então aprecio Isvara. Pode haver, por essa razão, uma certa entrega com referência ao que aconteceu no passado e ao que acontecerá no futuro. E faço o que posso. Se há uma apreciação de Isvara, há uma ordem, há um sentido na vida. As coisas estão acontecendo e, por conseguinte, aceito o que vem para mim e faço o que é para ser feito. 

Eu questiono essa apreciação de Isvara sob o aspecto de Karma Yoga, o que pode ser considerado como uma vida religiosa, que é também parte do viver-se com maturidade, desde que, naturalmente, a religião seja apropriadamente entendida. Isvara é para ser entendido apropriadamente e, na medida que temos esse entendimento, está a nossa maturidade. 

Maturidade emocional implica em um entendimento das estruturas dos valores e prioridades. Nossas prioridades devem ficar muito claras em referência aos valores. Há valores universais e há outros determinados valores, tais como um valor pelo dinheiro, pelo poder, nome, influência ou controle, que são valores mas não são, necessariamente, universais. 

Uma pessoa pode ser feliz sem dinheiro, por exemplo, ao passo que valores como falar a verdade e não ferir os outros são valores universais. Há uma série de outros valores universais, como não roubar, compaixão, amizade e servir ao próximo. Estes são, todos, valores que respeitamos com referência ao comportamento dos outros. 

Quero que todos sejam amistosos comigo, não representando nenhuma ameaça para mim, ajudando-me quando necessário e dizendo-me somente a verdade. Quero que ninguém me roube ou minta para mim. Tudo isso eu valorizo, significando que sou limpo de caráter, absolutamente ético no que diz respeito ao comportamento das outras pessoas. Nisso sou absoluto. (Entretanto, quanto ao meu próprio comportamento, tenho alguns problemas). Sei que você também espera de mim o mesmo procedimento. Isto significa que tenho valores, ainda que eles possam não ser propriamente entendidos. 

O valor dos valores geralmente não é entendido. Os valores são conhecidos por mim. Sei o que são, mas o valor de cada um dos valores não foi assimilado. No que se refere ao valor dos valores, preciso ser educado. Ou eu mesmo me educo, ou torno-me educado com a ajuda de alguém. 

Se alguém lhe diz para falar a verdade, a coisa torna-se bem semelhante a um sermão. Você sabe bem que deveria falar a verdade. Do mesmo modo ninguém precisa dizer-lhe que não roube. Isto você também sabe muito bem.

Não é necessário que ninguém lhe diga para não roubar, porque você também não deseja que a sua propriedade seja roubada por ninguém. Dessa forma, todos esses valores universais são conhecidos por você. O pregador de valores é portanto imaturo e aquele que o escuta, acenando afirmativamente sua cabeça, naturalmente, também o é. 

Por quê eu não deveria roubar? Qual é o exato valor do não-furtar? Quando roubo ou firo alguém, como sou realmente afetado? Perco alguma coisa? Somente se eu tiver algo a perder, existirá um valor, caso contrário, não.

Para que alguma coisa seja um valor, a sua não observância por mim deve, irrevogavelmente, me conduzir a uma perda. A compreensão da imensidade de minha perda, quando me coloco contra um valor, é que me torna maduro. 

Na medida em que aprecio a minha perda, me torno maduro, o que implica educação. Tenho de conhecer o valor dos valores acidentais, como dinheiro, poder, etc. Por estarem estes outros valores muito bem assimilados, terei problemas de prioridade em termos de quais valores a serem seguidos por mim. 

Por exemplo, devo falar a verdade e perder o dinheiro que ganharia recorrendo a uma mentira? Ou devo, para ter o dinheiro, lançar mão da mentira? Obviamente, tenho um conflito a respeito de como agir e, sem dúvida alguma, farei aquilo que para mim for de maior valor. Se para mim o dinheiro representar mais do que a verdade, então a educação do valor não ocorreu. 

Se analisarmos esse problema prioritário particular, encontraremos novamente uma falta de maturidade. Em termos de valores e gerenciamento emocional, existe imaturidade. No que você começa a lidar com esse problema, ocorre um amadurecimento, uma tentativa de amadurecer. De outra forma, você permanece imaturo, ainda que atinja os noventa ou cem anos.



Retirado de http://www.vidyamandir.org.br/#!texto-dayananda-3/cfdi

domingo, 13 de setembro de 2015

A Tristeza de Arjuna

Nota: Para quem não conhece a história de Arjuna (personagem do Bhagavad Gita - que simboliza o homem em evolução - ou seja - todos nós) ele é um grande guerreiro que é obrigado a entrar em uma guerra para reconquistar seu reino que foi tomado por seus primos. Ao chegar no campo de batalha ele ve nos seus adversários sua família, mestre, etc e fica dividido entre lutar e matar todos os seus parentes (que na verdade simbolizam nossos hábitos maus - egoísmo, ignorância, etc) ou deixar de lutar e abandonar o seu dharma - que é lutar.

Neste texto Swami Dayananda Saraswati faz uma análise sobre esse momento.

Pergunta:
- Swamiji, o senhor analisaria, por favor, a diferença entre a tristeza de Arjuna e a tristeza de uma pessoa normal? 

Swamiji:
- A tristeza de Arjuna nasceu de um conflito entre os seus sentimentos e a chamada do dever. Por um lado, ele achava que tinha de lutar contra pessoas que conhecia e respeitava, pessoas que eram ligadas a ele, ou por laços de sangue ou porque fossem amigos ou conhecidos. A luta surgiu como o resultado de dois fatores: vingança e dever. O sentimento de vingança sentido por Arjuna, ao chegar ao campo de batalha, desvaneceu-se quando ele considerou a enormidade da destruição envolvida. 

Arjuna sabia que haveria muita destruição no seu próprio campo, e, como esperava vencer, a expectativa de destruição para o outro lado era total. Para vencer, teria que destruir todo o exército de seu oponente. A estimativa de Arjuna do resultado era puramente pragmática. E com esse ponto de vista esperava começar a batalha. 

Arjuna sabia muito bem que Duryodhana não se renderia. Definitivamente, esse não era o seu tipo, mesmo se tal ação fosse concebível, o que naqueles dias não o era. Ele lutaria até ao fim, até ao último homem. Arjuna sabia que uma total destruição do outro lado significaria a destruição de seu próprio mestre, Drona, assim como a de Bhisma, nobre ancião da família, altamente respeitado. Este era o problema de Arjuna. 

O problema era mais complexo para Arjuna porque havia uma questão de dever envolvida. Duryodhana tinha usurpado o reino que aos Pandavas competia governar. O irmão mais velho de Arjuna, Dharmaputra, era o rei, ainda que estivesse no exílio. Era seu dever proteger o Dharma, juntamente com seus irmãos, os príncipes coroados. Duryodhana tinha desconsiderado o Dharma por todos os meios possíveis. De qualquer modo que olhemos as ações de Duryodhana, mesmo aquelas de sua infância, elas sempre foram questionáveis. Certamente, num passado recente, ele se portara de modo bastante impróprio. 

Face a essa situação, que escolha tinha Arjuna? Nenhuma. Tinha que lutar. O dever o chamava, e dever nada tem a ver com nossos sentimentos. Por conseguinte, pelo fato de que os sentimentos de Arjuna entraram em conflito com o seu dever, havia tristeza. Se nos colocarmos em uma situação onde temos que nos destruir mutuamente, haverá, sem dúvida nenhuma, tristeza. Este é o sentimento de uma pessoa normal, que é suficientemente amadurecida para avaliar o que representa o seu dever, mas que, ao mesmo tempo, tem as naturais emoções humanas. 

A tristeza de Arjuna, como tristeza, não perdurou. Tornou-se alguma coisa deveras diferente. Primeiramente, ele sucumbiu e, em seguida, indo além da guerra, dos reinos, do Dharma e Adharma, ele quis saber o sentido de tudo isso. Arjuna era uma pessoa especial, que vivia uma vida de integridade moral. Não precisava por-se à prova para ninguém. Sua tristeza era a tristeza de uma pessoa amadurecida que se sentia sem qualquer controle sobre as situações de sua vida. Arjuna queria evitar a luta em razão da destruição envolvida, mas não podia - uma situação, na verdade, muito sombria. 

Sua tristeza levou-o à apreciação de certo problema humano fundamental. Por essa razão, ele solicitou o conhecimento que resolveria este problema. A tristeza de Arjuna não se assemelhava, por exemplo, à dor de depressão. A depressão nasce da raiva, da raiva da infância. Não existe tal coisa como uma depressão originária do presente. Qualquer um que esteja deprimido, definitivamente, encontra-se assim em razão de uma raiva relacionada à infância. Qualquer coisa acontecida, ontem, na vida de um adulto, realmente não causa depressão. A depressão surge devido a uma formação de raiva progressiva, oriunda da infância. Por conseguinte, a raiva é a causa da depressão, e a raiva em si mesma é originada por algum tipo de profunda dor. Quando essa dor, na forma de mágoas, culpas, e várias outras coisas, desenvolve-se, vem a depressão. 

Depressão não era o problema de Arjuna. O problema de Arjuna é aquele no qual as realidades têm de ser devidamente entendidas. O problema tem de ser tratado de duas formas: primeiro, ao nível de onde ocorre, e também tem de ser conduzido de um modo cognitivo. 

O problema de Arjuna é sobretudo um problema ético, moral e espiritual. Naturalmente, todos os problemas têm algum conteúdo emocional. E por isso são problemas. Problemas - outros que não sejam o de Arjuna - são todos problemas emocionais. Aqui, embora o problema seja também emocional, a moralidade é predominante, não a emoção. De fato, a diferença entre as duas espécies de problemas depende do que predomina - a emoção ou a moralidade, estando ambos os fatores ligados ao ser. 

Na depressão, o ser está também envolvido, desde que a depressão implica numa certa avaliação de si mesmo que não é verdadeira. Por conseguinte, pode-se resolver o problema fundamentalmente, se pudermos com ele lidar e compreendê-lo. O problema que aqui estamos discutindo - o problema de Arjuna - pode e deve ser solucionado de modo fundamental. 

Arjuna tinha que reavaliar, por completo, seu pensamento. Cognitivamente, ele tinha de mudar tanto a visão de si mesmo e do mundo, como as suas noções acerca da morte e da destruição. Tudo tinha que ser reexaminado.

Retirado de http://www.vidyamandir.org.br/#!texto-dayananda-13/c1pok

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Como lidar com uma Discussão

Por quê discutimos? 

Diferentes pessoas têm percepções diferentes e essas diferentes percepções são a causa principal de uma discussão. Gostos e aversões não similares são inevitáveis porque duas mentes nunca pensam do mesmo modo. Esta é a razão pela qual temos diferentes percepções para qualquer situação. Uma pessoa pode perceber uma situação objetivamente enquanto outra pode ser bastante subjetiva quanto à mesma situação. No entanto, a pessoa que é subjetiva está totalmente inconsciente de sua própria subjetividade. Numa discussão é fundamental saber que qualquer assunto é relativo. Por exemplo, existem discussões sobre qual partido é bom, o partido Republicano ou o Democrático. Sobre esse assunto pode-se discutir em defesa dos dois lados e aquele que argumentar com mais habilidade ganhará!


Conversas são melhores que discussões

Por outro lado, numa conversa não se tem vencedores, porque a conversa é para revelar os fatos. Conversas são úteis e saudáveis. Além disso, através de uma conversa pode-se olhar uma situação um pouco diferentemente, de modo que sua percepção da situação possa ser ampliada. Em uma discussão, você pode não notar certos detalhes, mas numa conversa você pode ver o outro lado adequadamente. Numa conversa não existe vitória, existe apenas um entendimento. Em Sânscrito uma discussão é chamada de “jalpa”, onde a tentativa é apenas ganhar e nunca aceitar a derrota. Esta é a razão pela qual as discussões não são saudáveis; conversas são saudáveis. Uma discussão apenas cria problemas, tais como quando se perde a cabeça e se dizem coisas indesejáveis. Quando se está no tiroteio de uma discussão, é mais fácil ficar zangado e tornar-se defensivo. Como é dito: “A melhor defesa é o ataque.” É o chamado “ataque pré-emptivo”; antes que uma discussão comece, você joga um ataque ofensivo contra uma pessoa. Você dá um soco no cara antes que ele dê um soco em você, porque se ele der um soco em você primeiro, ele pode não estar por perto quando for sua vez de dar um soco nele. Da mesma forma, pode-se adotar a mesma política numa discussão em que não há diálogo ou discussão real.


Para evitar explosões, pequenas discussões são melhores

Nem sempre é possível evitar uma discussão. Como num terremoto, se não houver pequenos tremores, haverá um tremor enorme. Então, só para evitar grandes rompantes é que discussões menores são saudáveis. Elas removem a tensão, e se constantemente evitarmos estas pequenas discussões, eventualmente explodiremos. Sempre que você se confrontar com uma discussão e escolher não discutir, esta estará sendo engarrafada. Com raiva engarrafada, uma explosão acontecerá mais cedo ou mais tarde. A explosão pode ser num assunto muito bobo tal como alguém dizendo: “Falta sal aqui!” e isto é suficiente para se formar uma explosão. Então, o resto não terá nada a ver com o sal e tudo o que estiver empilhado internamente vai sair. Por isso, evitar uma discussão não é recomendável em Vedanta.

No entanto, o ensinamento de Vedanta é através de discussões. O estudante levanta uma objeção e ela é clareada com uma explicação. É uma excelente forma de analisar e compreender uma parte do conhecimento. Este processo de levantar uma objeção e clareá-la leva à análise de um assunto. Esta análise é através de uma discussão que nos assegura que todos os assuntos e perguntas sejam respondidos.


Discussões são intrínsecas a emoções negativas 

Consideremos um outro ponto que lida com a condição emocional. Em todas as discussões estão envolvidas emoções intensas, e as situações emocionais são principalmente ataques pessoais. Nestes ataques, o assunto se vai e a pessoa é atacada. Quando você não pode evitar uma discussão devido a diferenças de gostos e aversões, você está se programando para uma situação sem vitoriosos. Por exemplo, quando um casal sai para as compras juntos, um não gosta do que o outro quer comprar. Logo se torna uma marcação pessoal. “Você tem este hábito” um diz; “não somente você, mas sua mãe também tem este mesmo hábito”, ele ou ela continua. Assim a briga começa e o assunto não é mais o assunto; ele se vai como num aspirador de pó e some! Além dos gostos e aversões, algumas situações estão envolvidas com diferenças de percepção. É impossível fazer a outra pessoa ver seu ponto, se não houver aceitação. Tudo isto é devido à ignorância de nossas próprias emoções. Não analisamos nossas emoções adequadamente, o que leva à confusão e, naturalmente, as percepções ficam todas distorcidas. Cada um de nós tem muitas emoções, tornando difícil ter uma mente objetiva.


Os Sentimentos baseados nas percepções são reais 

Percepções podem estar erradas, mas os sentimentos são reais. Percepções estão erradas devido aos variados “backgrounds”. Os “backgrounds” incluem a filiação, família, cultura em que a pessoa nasceu, etc. Você é um produto do seu “background”. Você não pode ser diferente do seu “background”. Todos deveriam aceitar os seus “backgrounds”. Esta criação forma o núcleo da personalidade de uma pessoa, que pode ter muitos problemas.

Apenas daí se percebem todas as emoções. Portanto, a percepção vem do “background”, e nenhuma percepção pode ser objetiva, a não ser que você se analise e se liberte da raiva, ansiedades, etc., que são parte de seu “background”. Poucas pessoas no mundo conseguiram este tipo de percepção. As pessoas que não se analisaram totalmente não terão uma percepção objetiva. Então, aceite o que você é, aceite sua própria subjetividade e quando puder aceitar isto, você estará seguro. Você poderá ter sucesso em transformar uma discussão em uma conversa saudável.


Como resolver uma discussão antes que comece

Para resolver uma briga ou mesmo antes que ela surja, não diga o que você não pensa. É importante que se diga só o que se pensa. Antes de começar você deve dizer “Assim é como percebo, posso estar certo ou errado”. Primeiro você aprende a dizer isto e estará eliminando a defesa da outra pessoa. Permita que a outra pessoa aponte se você está certo ou errado. Se a outra pessoa apontar que você está errado, inicialmente você pode não aceitar. Se você não pensa o que disse, você não pode dizer que pensa aquilo! Portanto, quando disser “Assim é como eu percebo, posso estar certo ou errado”, por favor, pense assim realmente e verá que funciona, ajudará a evitar uma discussão!



Da palestra de Swami Dayananda em Saylorsburg, PA. 
Editado por Lata Pimplaskar.
Traduzido por Carlos Amaral

Retirado de http://www.vidyamandir.org.br/#!texto-dayananda-29/c159v