quinta-feira, 20 de agosto de 2015

É Preciso Ir Embora

Texto de Antônia Macchi

Estava na festa de despedida de uma amiga, quando ouvi calada e com atenção seu dolorido discurso sobre o quanto ela se preocupava com a decisão de ir embora. Dizia se preocupar com a saudade antecipada da família, com a tristeza em deixar um amor pra trás e com a dor de se afastar dos amigos. Ela iria embora para Londres com tantas incertezas sobre cá e lá, que o intercambio mais parecia uma sentença ao exílio.

Dentre dicas e conselhos reconfortantes de outras amigas, lembro-me de interromper a discussão de forma mais fria e prática do que gostaria: “Quando você estiver dentro daquele avião, olhar pra baixo e ver todas estas dúvidas e desculpas do tamanho de formigas, voltamos a falar. E você vai entrar naquele avião, nem que eu mesma te coloque nele.” Ela engoliu seco e balançou a cabeça afirmativa.

Penso que na ocasião poderia ter adoçado o conselho. Mas fato é que a minha certeza era irredutível, tudo que ela precisava era perspectiva. Olhar a situação de outro ângulo, de cima, e ver seus dilemas e problemas como quem olha o mundo de um avião. Óbvio, eu não tirei essa experiência da cartola. Eu, como ela, já havia sido a garota atormentada pelas dúvidas de partir, deixando tudo pra trás rumo ao desconhecido. Hoje sei que o medo nada mais era do que fruto da minha (nossa) obsessão em medir ações e ser assertiva. E foi só com o tempo e com as chances que me dei que descobri que não há nada mais libertador e esclarecedor do que o bom e velho tiro no escuro.

Hoje a minha amiga não tem mais dúvida. Celebra a vida que ela criou pra ela mesma lá na terra da rainha, onde eu mesma descobri tanto sobre minha própria realeza. Ironicamente – e também assim como eu – ela aprendeu que é preciso (e vai querer) muitas vezes uma certa distancia do ninho. Aprendeu que nem todo amor arrebatador é amor pra vida inteira. Que os amigos, aqueles de verdade, podem até estar longe, mas nunca distantes. Hoje ela chama o antigo exílio de lar, e adora pegar um avião rumo ao desconhecido. Outras, como eu, e como ela, fizeram o mesmo. Todas entenderam que era preciso ir embora.

É preciso ir embora.

Ir embora é importante para que você entenda que você não é tão importante assim, que a vida segue, com ou sem você por perto. Pessoas nascem, morrem, casam, separam e resolvem os problemas que antes você acreditava só você resolver. É chocante e libertador – ninguém precisa de você pra seguir vivendo. Nem sua mãe, nem seu pai, nem seu ex-patrão, nem sua pegada, nem ninguém. Parece besteira, mas a maioria de nós tem uma noção bem distorcida da importância do próprio umbigo – novidade para quem sofre deste mal: ninguém é insubstituível ou imprescindível. Lide com isso.

É preciso ir embora.

Ir embora é importante para que você veja que você é muito importante sim! Seja por 2 minutos, seja por 2 anos, quem sente sua falta não sente menos ou mais porque você foi embora – apenas sente por mais tempo! O sentimento não muda. Algumas pessoas nunca vão esquecer do seu aniversario, você estando aqui ou na Austrália. Esse papo de “que saudades de você, vamos nos ver uma hora” é politicagem. Quem sente sua falta vai sempre sentir e agir. E não se preocupe, pois o filtro é natural. Vai ter sempre aquele seleto e especial grupo que vai terminar a frase “Que saudade de você…” com “por isso tô te mandando esse áudio”; ou “porque tá tocando a nossa música” ou “então comprei uma passagem” ou ainda “desce agora que tô passando aí”.

Então vá embora. Vá embora do trabalho que te atormenta. Daquela relação que você sabe não vai dar certo. Vá embora “da galera” que está presente quando convém. Vá embora da casa dos teus pais. Do teu país. Da sala. Vá embora. Por minutos, por anos ou pra vida. Se ausente, nem que seja pra encontrar com você mesmo. Quanto voltar – e se voltar – vai ver as coisas de outra perspectiva, lá de cima do avião.

As desculpas e pré-ocupações sempre vão existir. Basta você decidir encarar as mesmas como elas realmente são – do tamanho de formigas.


Retirado em 22/07/15 de http://obviousmag.org/antonia_no_diva/2015/e-preciso-ir-embora.html

domingo, 9 de agosto de 2015

Yoga e Controle

Na cabeça das pessoas a palavra yoga está, em geral, associada de alguma maneira ao conceito de controle, de forma que, quando se pensa em yoga, se pensa em controle do corpo, controle da respiração ou controle da mente. No entanto, a palavra controle nos dá inevitavelmente uma ideia errada sobre a disciplina de yoga, que está muito mais ligada a uma observação amorosa e inteligente do que a uma rigidez controladora.

A ideia de controle associada ao yoga não é, contudo, um mero erro fortuito. A definição de yoga na principal escritura de yoga, o Yogasutra de Patanjali, diz que yoga é nirodha das atividades mentais (yogah citta-vrtti-nirodhah), sendo que o significado mais imediato de nirodha é mesmo controle ou supressão. Mas nirodha, como veremos neste artigo, também pode ter outro significado, muito mais adequado à definição de yoga.

A grande fantasia das pessoas é a fantasia do controle. A fantasia dos pais é controlar os filhos; a fantasia do patrão é controlar o empregado; do marido, controlar a mulher, e vice-versa; do governo, controlar o cidadão; do professor, controlar o aluno; da indústria, controlar o consumidor, e assim por diante. Quando nos deparamos com yoga, a mesma fantasia naturalmente entre em cena: o yogi quer controlar sua mente.

O controle, contudo, é apenas uma fantasia da mente humana. Ninguém controla nada. Não controlamos o mundo, por mais que o avanço da tecnologia nos faça acreditar nisso. Não controlamos as outras pessoas. Você não tem sequer controle sobre o seu próprio corpo; se tivesse, não deixaria ele ficar gripado, por exemplo, apenas para exemplificar com um fato banal da existência. Com relação a nossa própria mente, tampouco temos controle. Você não controla seus sentimentos, do contrário não ficaria zangado, ou triste. Você não controla o seu conhecimento, pois, se controlasse, você seria sem dúvida o gênio maior da humanidade, e já não teria lugar na sua estante para entulhar prêmios Nobel. Infelizmente, nós conhecemos apenas o que, com muito esforço e apesar de tudo, conseguimos conhecer, e não o que desejamos. Aliás, você não controla nem os desejos que passam pela sua mente, eles apenas surgem! E quantas vezes não são desejos inadequados, que você não teria se pudesse? Onde está então o controle? Se tivermos o mínimo de maturidade com relação ao entendimento da nossa mente, veremos que não a controlamos. Os mestres de yoga, portanto, não podem estar dizendo que devemos controla-la, e de fato não estão.

Em primeiro lugar, por que alguém desejaria controlar a mente? A resposta parece óbvia: porque ninguém quer se sentir frustrado, ou triste, ou irritado, e todas essas condições são condições da mente. Controlar a mente implicaria impedir todas essas condições de se manifestarem na mente e, portanto, eu me sentiria bem! Não é isso que todos estamos buscando: evitar todas essas emoções identificados com as quais nos sentimos mal? Não e por isso que precisamos tanto de diversões, de distrações, de drogas, de remédios? Pois é, mas yoga não segue essa mesma lógica.

Yoga não é como um remédio antidepressivo que impede que você tenha emoções. Yoga é aquilo que faz você compreender a si mesmo como distinto da mente, com todo o pacote de emoções incluído. E, se o yoga quer mostrar para você a sua distinção com relação à mente, por que ele estaria ao mesmo tempo interessado em fazer você controlar essa mente que é distinta de você? Pois, se você não está perdido na identificação com os processos mentais, você não tem nenhum interesse em controlá-los!

Isso é muito interessante. É comum na nossa sociedade, por exemplo, as pessoas em eventos sociais se embebedarem para poderem fazer e dizer coisas que elas não fariam e diriam sóbrias. Mas, muitas vezes – na maioria delas talvez – a pessoa está plenamente consciente de si, mas usa o álcool como uma desculpa para ter a licença para se comportar de modo diferente do que faria normalmente. Porque depois ela pode dizer, “Ah, aquilo? Mas eu estava completamente bêbado. Eu mesmo não faria aquilo.”

Se o eu sóbrio é diferente do eu bêbado, então eu não tenho nenhuma pressão por “controlar” o bêbado. Ele pode ser livre para fazer o que quiser, porque eu sou distinto dele. De modo similar, se eu sou distinto da minha mente, das minhas emoções, eu posso senti-las sem qualquer pressão por modificá-las. E precisamente essa é a liberdade de que o yoga fala. Não se trata de controlar a mente, mas de ter um conhecimento direto de si mesmo como a consciência distinta da mente, livre dos seus conteúdos.

Nirodha vem da raiz ‘rudh’ com o sentido de ‘avarana’, encobrir, envelopar, abraçar, etc. Em um primeiro momento, yoga é a capacidade de direcionamento da mente, como a capacidade da mente de “envelopar-se” no objeto de concentração, de modo a poder contemplar sobre ele sem interferência de pensamentos “externos”. Isso também é dito como o estado de direcionamento único, ekagrata, da mente. Mas, além disso, nirodha também é a capacidade emocional de abraçar a mente, isto é, de acolhe-la em todas os seus supostos “defeitos”, e conseguir olhar para ela com compaixão. E, quanto maior for a clareza do sujeito com relação à sua natureza livre da mente – clareza essa advinda do estudo das escrituras com a mente qualificada com ekagrata – maior será a sua capacidade de acolher a própria mente sem estar comprometido com ela, como quem compassivamente acolhe uma outra pessoa nos seus eventuais defeitos sem achar com isso que a pessoa mesma é defeituosa.


Texto retirado em 09/08/15 de http://www.vedantaonline.org/yoga-e-controle/

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Qual o Valor da Paz?

Texto de Vanessa Rossi

Quando afirmar escolhas e compromissos depende do sentimento da paz individual e intransferível.


Casar ou comprar uma bicicleta? Ganhar muito dinheiro ou ter realização profissional? Amor cabana ou status social? Definitivamente a vida é feita de escolhas. A partir dessas escolhas, damos rumo a nossa trajetória individual e única. O mais mágico de tudo é justamente essa capacidade que temos de possuir livre arbítrio e poder pensar e distinguir o que deve ou não ser melhor para nós.

Quantos de nós pensamos inevitavelmente em algum momento da vida, que se tivéssemos feito determinada escolha talvez tivéssemos sido mais ou menos feliz? Quantos de nós após realizarmos uma escolha, ainda que aos olhos dos outros pareça pouco atraente, agradecemos o fato de termos tido esse tipo de coragem?

Admiro pessoas corajosas. Tenho lido interessantes relatos de pessoas que largaram tudo, uma vida profissional altamente promissora, um “status quo” bastante atrativo para viver uma vida mais simples e consequentemente mais feliz.

Dinheiro nem sempre traz felicidade. Ser retaliado continuamente por imposições sociais também não. A verdade é que precisamos de pouco para sermos felizes. Não entendam como falta de ambição ou um ode a vida monótona e sem desafios. A indústria midiática com suas propagandas inteligentes, converge para criarmos necessidades que não possuímos. A partir daí somos obrigados a trabalhar dobrado, para atender as exigências baseadas nos ditames sociais e não nas nossas reais necessidades.

Somos consumidos por estresses absurdos, advindo problemas de saúde devido ao desajuste emocional e físico que criamos para nós, incompatível com o bem-estar de uma vida alegre.

Disso resulta que todos nós devemos ter uma vida estável e com poucas ambições? De modo algum. Apenas analisar a nossa cadeia de prioridades e invertê-las. Nem sempre o que está no topo da base é o que realmente importa, visto que pequenas coisas é que compõem o todo.

Particularmente prefiro a valorização das coisas simples. Sentir à graça de um dia de sol, ter um trabalho onde possa ser eu mesma, exercitar a criatividade (Pessoas criativas são mais felizes) em suma, aspectos que nos permitam quantificar a existência em um conjunto de valores, porque a vida é composta de valor e não de preço.

E para vocês, queridos leitores, qual o valor da paz

Retirado em 22/07/15 de http://lounge.obviousmag.org/papaguear/2015/07/qual-o-valor-da-paz.html

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Use um cinto para colocar seus ombros no lugar

Digitação, condução, culinária, jardinagem: quase tudo o que fazemos nos encoraja a deslizar nossos ombros para baixo e girá-los para frente. Ao longo do tempo, isso pode levar à ombros rígidos, costas superiores doloridos e dor no pescoço.

Você pode reverter esta ação, movendo os ombros para trás e para baixo, com a ajuda de um cinto comprido de yoga - ou juntar dois mais curtos amarrados juntos.

Primeiro, passe o cinto atrás de suas costas, o mais próximo às axilas quanto possível. Ela ajuda a dobrar para a frente e deixa a gravidade ajudar.

Você quer que a cinta para pegue a borda inferior das suas escápulas, ou ligeiramente superior. Segure um lado da alça em cada mão e equilibrar o comprimento senão não há um alinhamento igual nos lados direito e esquerdo. 

Agora pegue cada correia sobre seu próprio ombro, deixando cada extremidade abaixar sua volta. Ajustá-lo para a cinta em suas costas e as alças sobre seus ombros até se sentir confortável.

Em seguida, atravessar as tiras atrás das costas. Puxe para baixo as correias, mover as mãos para o chão.

Quando você puxa para baixo, você deve sentir os escápulas mover para baixo, na direção da lombar, e de suas extremidades inferiores indo na direção da sua caixa torácica.

Se a sensação não é essa, você precisa ajustar o cinto até achar essa sensação. 

Agora mova suas costelas frontais para dentro, em direção à parte de trás de seu corpo, mas manter a largura e elevando sutilmente seus ombros.

Depois de ter a cinta no lugar, fique em Tadasana (postura da montanha). E sinta a sensação do alinhamento das suas escápulas, ombros e costelas.

Você também pode experimentar isso em outros asanas - Trikonasana, Virabhadrasana II ou Utthita Parsvakonasana. Continue usando suas mãos sobre as alças para puxar para baixo. 



Benefícios: Como um parceiro yoga que está sempre pronto para ajudar, a alça irá inverter o movimento para a frente de seus ombros e ajudar a definir o sentimento de boa postura na memória do seu corpo. 

Sequência: Como uma prática independente, fazer isso sempre que você gostaria de mover seus ombros em alinhamento. Alguns estudantes viajam com uma cinta e usá-lo em vôos longos para ajudar a prevenir uma postura curvada e dor nas costas. Em uma prática mais longa, ficar em Tadasana com a alça, então mover-se lentamente em suas poses de pé. Sinta como trabalhar as escápulas com a cinta ajuda a manter o peito erguido e aberto.

Atenção: Evite esta preparação se você tiver lesões no pescoço e nos ombros, já existente, pelo menos até que você pode experimentá-lo com a supervisão de seu professor. 




Retirado e traduzido de: 

http://myfiveminuteyoga.com/303/take-your-shoulders-back-with-a-long-strap/

terça-feira, 28 de julho de 2015

O Sistema de Yoga Criado por B.K.Iyengar

Texto de Márcia Neves Pinto

Uma palestra proferida por Prashant S. Iyengar em dezembro/98, por ocasião do 80º aniversário do Guruji, teve por tema o que este último fez pelo yoga, em especial como adhyātma śāstra (a ciência que tem por objeto compreender a alma). Esse é um enfoque objetivo a respeito do diferencial desse sistema, útil para esclarecer o que é Yoga Iyengar usando as palavras de um dos Iyengars.

Diz Prashant: “Os primeiros aspectos do yoga, āsana e prāṇāyama, eram dublês de exercícios antes do Guruji ingressar no campo do yoga. Āsana-s, em particular, não podiam ser relacionados como adhyātmic sādhanā e eram meramente considerados exercícios físicos. (…)À exceção dos livros e sistema do Guruji, nenhum outro livro ou sistema pode provar e convencer que āsana-s são espirituais em sua abordagem e espirituais em sua finalidade.”  
(Yoga and the New Milleniun, Yog, Mumbai, Índia, p. 6)

Os livros afirmam que yoga é ciência, mas somente Guruji o sistematizou como uma ciência. E nesse sistema, que chamamos de Yoga Iyengar, há três aspectos únicos que podem distingui-lo de todos os outros sistemas:

1. Tecnicalidades;
2. Sequenciamento dos āsanas;
3. Tempo.

Prashant discorre sobre cada um desses aspectos, tornando-os bastante claros para todos nós e afirma que “Esses três aspectos estão tão integrados que não vão funcionar de uma maneira isolada. A integração desses três aspectos é a quarta maravilha de nosso sistema. Portanto, āsana-s podem contribuir nos ajudando a viajar no longo percurso no caminho de adhyātma somente em virtude desses três aspectos trabalhando de uma maneira integrada.É uma grande ‘cientificação’ do Guruji.” (p. 10)

Tecnicalidades:

Os aspectos técnicos dos āsana-s foram meticulosamente observados pelos Iyengars, pelos professores e estudantes de Yoga Iyengar, de forma que “Ao estudante é dado acesso ao corpo, que está além do corpo esquelético e muscular periférico. (…)

Essas penetrações são muito, muito profundas e muito amplas. O propósito psicomental, o propósito é atingir a consciência com os āsana-s e isso requer penetração; penetração requer complexidade; complexidade requer tecnicalidade. (…) Portanto, as complexidades técnicas, que são parte de nosso sistema, auxiliam a penetrar e atingir o propósito dos āsana-s, os benefícios psicológicos e mentais dos āsana-s, os benefícios no plano da consciência nos āsana-s. (…)

As complexidades técnicas em nosso sistema são apenas para nos prover um portão de acesso para interpenetrações, penetrações internas. Elas expandem as avenidas e abrem os canais para prosseguirmos a partir da camada periférica do corpo físico e descobrirmos a gloriosa mente interna – para finalmente alcançar o propósito psicomental dos āsana-s. Todas essas coisas estão diretamente conectadas e dizem respeito a citta vṛtti nirodha – a cultivar a mente, a restringir a mente, a sublimar a mente. As penetrações do Guruji nos ajudam a fazer uma jornada para dentro em direção ao reino das práticas adhyātmic.” (p. 6 a 8)

Sequenciamento dos āsana-s:

“Em todos os outros sistemas qualquer āsana pode ser feito antes ou depois de qualquer āsana. O engano é que há até um conceito ridículo de contra āsana ou contra postura. O āsana contrário não irá tornar perigosas as práticas, que são periféricas e não refinadas, na medida em que elas não produzem nenhum cultivo mental. Entretanto, o contra āsana pode ser muito, muito contra producente quando os āsanas são feitos com tremendo envolvimento e complexidade. Eles podem subverter o desenvolvimento psicomental efetuado pelo āsana precedente. Obviamente, em nossas complexas práticas, definitivamente cultivamos a mente e, portanto, temos de tomar cuidado com o que deve se seguir a um particular āsana. Ou o que deve se seguir a um particular conjunto de āsana-s.

Você experimentou como uma particular sequência de āsana-s lhe dá melhor complexidade nas tecnicalidades. O sequenciamento o ajuda a obter maiores penetrações. Auxilia também a explorar e descobrir a si mesmo. Mais importante de tudo, ajuda-o a desenvolver um estado psicomental, que é muito condutivo à psicologia do yoga. O estado da mente yogic é serena, quieta, sublime, sedada, clara, passiva. Esses atributos podem ser desenvolvidos com o sequenciamento das posturas. Podemos cultivar e modificar desejavelmente e sintonizar nossa mente com o auxílio sequenciamento.(…) O sequenciamento ajuda-o a coletar e acumular benefícios dos āsanas. É por isso que, após o final de uma prática, ou depois do término de uma aula, você obtém um estado mental que é o resultado da execução da sequencia inteira de āsana-s e não de apenas um āsana.” (p.8)

Tempo:

A cronometragem ou a medida de tempo em um āsana: “Guruji entendeu que é com o aspecto da medida do tempo que se pode aperfeiçoar e concluir um processo. (…) O aspecto da cronometragem ajuda a construir, desenvolver e concretizar os efeitos dos āsanas. (…) Esses três aspectos eram desconhecidos pelos outros sistemas. (…) Se o āsana tem de trabalhar para algum efeito psico mental, você certamente não pode esperar que os efeitos ocorram em um segundo ou dois, ou até em dezenas de segundos. O aspecto da cronometragem no nosso sistema é para criar uma circulação dentro de nós que é peculiar àquele āsana. Isso é muito importante para a evolução da consciência ou para a alteração do estado da mente.

A medida de tempo não é somente agir sob o cronômetro (…). Cronometragem é a extensão de tempo no qual a postura é realizada metabolicamente, celularmente com todas as interações internas. (…) O metabolismo e não o seu cronômetro mantém o tempo! (…)” (p. 9/10)


Artigo retirado em 19/07/15 de
http://boa-yoga.com/o-sistema-de-yoga-criado-por-b-k-iyengar-marcia-neves/

quarta-feira, 22 de julho de 2015

RESILIENTE

Resiliente é um termo mais físico que psicológico estritamente ligado a resistência dos materiais. Definindo é um conceito psicológico emprestado da física, definida como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas (sem entrar em surto).


É muito fácil tratar de resistência de materiais, quando se trata de sentimentos e emoções esse conceito pode ser aplicado?


Darwin já dizia em sua teoria evolutiva na seleção natural, os indivíduos são selecionados pelo ambiente. A seleção natural destrói, e não cria. O problema da existência de um objetivo não surge da eliminação dos inaptos, e sim da origem dos aptos. Em qualquer sistema onde ocorram essas características deverá ocorrer evolução.

De acordo com os psicólogos e psicanalistas a resiliência não nasce com o indivíduo, mas pode ser aprendida, como desenvolver a resistência?

Meu caro... não é uma tarefa fácil, mas para isso você precisa se permitir viver, viver todas as experiências que a vida irá lhe proporcionar, muitas vezes posso garantir que elas não serão sempre belas e nem as mais felizes, mas você irá sobreviver, e você se libertará, mas precisamos sair da bolha (zona de conforto).

Tudo se tornará mais leve quando você começa a perceber o quanto de pedras você carrega para sustentar um status imposto pela sociedade mesmo que de uma forma sutil

O filme into the wild (2007) e wild (2014) retratam isso, os livros são mais completos, para conseguir sair da floresta em que você está vivendo, e ver o céu, chegando à ponte dos deuses (frase de Reese Witherspoon, In The Wild, 2014). É necessário encontrar a si mesmo sendo resiliente. Seja na PCT, (Pacific Crest Trail), ou no meio da vida selvagem. Você precisa conhecer a si mesmo.

Como? Medite... Busque o seu autoconhecimento o Raja Yoga redefine o “eu” como uma alma e permite a conexão e o relacionamento diretos com a Fonte Suprema da energia mais pura e da consciência mais elevada. O Raja Yoga pode ser traduzido como “união suprema” ou como “conexão mais elevada”.

É fácil você acordar e dizer hoje irei manifestar a minha alma livre... mas como? O caminho é Resiliência, aprendendo a viver, para ter a alma livre, e manifestando a liberdade.A procura por respostas ou atalhos para chegar a manifestar na vida o que você acha que poderia fazer você mais feliz. O bem-estar e satisfação nunca estiveram fora de nós e nunca foi colocado em liberdade condicional.

Na vida, não existe nada a temer, mas a entender. (Marie Curie)

Diversos conceitos físicos, químicos, filosóficos e sociais podem ser aplicados para conquistar a resiliência, assim como a cultura e conhecimentos antigos. Nenhum conhecimento deve ser desprezado, nem as relações interpessoais são banais.

Muitas pessoas em processo de autoconhecimento buscam as civilizações mais antigas ou consideradas mais espirituais como a Índia ou tudo o que as abrange, budismo, hinduísmo, etc., E o que deparamos ao ler o livro de comer, rezar e amar, a luta desenfreada da procura da felicidade e satisfação.

No final a autora descobre que tudo estava ali, dentro dela! Sua auto-realização, seu autoconhecimento estava apenas adormecido, ela só precisava liberar e se libertar! (paz e luz sempre). Mas, para se tornar e reconhecer a pessoa em que precisava ser, ela precisou ser resiliente.

Um exemplo mais científico, Galileu Galilei desenvolveu os primeiros estudos sistemáticos do movimento uniformemente acelerado e do movimento do pêndulo. Galileu viveu numa época atribulada acabou condenado por desobediência e por proferir conteúdos contra a doutrina católica.

Provavelmente se Galileu não tivesse sido resiliente, estaríamos vivendo uma teoria antiga e defasada sem uma grande revolução cientifica. Ser acusado, rejeitado, desprezado blá blá.. Levariam muitas pessoas ao completo surto psicológico, porém ele resistiu! Resistiu que trouxe uma grande revolução cientifica!

Outros exemplos menos científicos, Martin Luther King um líder de movimentos que buscavam o respeito aos direitos dos negros e o fim da discriminação racial nos EUA. Bob Marley o seu trabalho lidava com os problemas dos pobres e oprimidos. Levou, através de sua música, o movimento rastafári e suas idéias de paz, irmandade, igualdade social, preservação ambiental, libertação, resistência, liberdade e amor universal ao mundo.

A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio. (Martin Luther King)

Como já citado “Em qualquer sistema onde ocorram essas características deverá ocorrer evolução”. Darwin

Somos forçados a evoluir, somos forçados a crescer, “Forçados” pelo instinto natural de sobrevivência, porém a evolução só ocorre com os mais fortes, no caso os resilientes. “Tudo é para a evolução, seja pelo amor ou pela dor

Não importa se você terminou uma graduação, mestrado, PHD, ou se tem um alto cargo, o dinheiro e títulos não agrega autoconhecimento nem o aprendizado de uma resiliência. Muitas pessoas carregam o fardo de sustentar um status e se submetem a diversos tipos de sentimentos prendendo muitas vezes até a própria alma.

Nossas vidas projetam nosso modelo de pensamentos, palavras e ações, aquilo que cremos a respeito dos outros acerca da própria vida. Se não gostamos das condições atuais em nossa vida, lembramos que temos domínio para refazer o nosso mundo.


Ter a força necessária para REFAZER, ou RECRIAR precisa do entendimento do próprio eu, conhecimento de suas limitações, trabalhar para superar seus medos e desafiar a si próprio, propondo metas, saindo de sua zona de conforto, permitindo experimentar.

A liberdade só acontece quando você conhece a verdade, (a sua própria verdade) manifestar sua alma livre requer um conhecimento interno, muitas vezes doloroso e encoberto por mentiras sutis.

Se você quer transformar o mundo, experimente primeiro promover o seu aperfeiçoamento pessoal e realizar inovações no seu próprio interior. Estas atitudes se refletirão em mudanças positivas no seu ambiente familiar. Deste ponto em diante, as mudanças se expandirão em proporções cada vez maiores. Tudo o que fazemos produz efeito, causa algum impacto. (Dalai Lama)

No meio de tanta turbulência de uma sociedade, status, correria.. Como praticar? Como ser resiliente? Como? A resposta está dentro de você, a minha foi buscando o sentimento à percepção e o conhecimento que tenho encontrado a mim mesma.

Referências bibliográficas (retirado de, de acordo com, adaptado de ..) contatos.


Retirado em 22/07/15 de http://obviousmag.org/paradoxum/2015/05/resiliente.html

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O que é Meditação? (Parte 3/3)

Prática paciente


     Professores competentes instruem os alunos em como ser livre de influências externas e como seguir os passos primários, de modo que o corpo, os sentidos e a mente estejam preparados para experiências meditativas. Se as preliminares são ignoradas, então os alunos podem desperdiçar anos e anos com alucinações e fantasias, simplesmente alimentando seus egos e não atingindo todas as experiências mais profundas.

     Mas há um problema sério. Os estudantes modernos são como crianças que plantam sementes à noite e no início da manhã seguinte acordam e começar a desenterrar as sementes para ver o que aconteceu. Claro, nada aconteceu; as sementes ainda estão lá para que a criança enterre novamente e derrame água sobre eles. Em seguida, na parte da tarde, a criança quer examinar as sementes novamente. Deixe as sementes de sua prática crescer; dê a sua prática de algum tempo para se desenvolver.

     Tenha paciência e faça a sua prática de forma sistemática. Toda ação tem uma reação. Não é possível para você fazer meditação e não receber benefícios. Você pode não perceber esses benefícios agora, mas lenta e gradualmente você está armazenando os samskaras (impressões) na mente inconsciente que irá ajudá-lo mais tarde. Se você semear uma semente de hoje, você não colherá os frutos amanhã, mas em algum momento você vai. Leva tempo para ver os resultados; seja gentil com você mesmo.

     Meditação significa sondar suavemente todos os níveis de si mesmo, um nível após o outro. Seja honesto com você mesmo. Não importa o que os outros dizem sobre as suas experiências, mantenha a mente focada em seu objetivo. É a sua própria mente que não permite você meditar, e sua mente não treinada é como um depósito de lixo. Para trabalhar com sua mente, você vai ter que ser paciente, você vai ter que trabalhar gradualmente com você mesmo.

     Às vezes ouço os alunos dizem, "eu não tenho atingido qualquer coisa; Tenho vindo a fazer meditação durante 13 anos!" Você tem certeza que você tem feito meditação? Ou você se senta e dorme ou sonha ou pensa? Por 13 anos você tem pensado sobre muitas outras coisas em nome da meditação; você pensa sobre seu trabalho e seu namorado ou namorada. Você sentou-se por todos aqueles anos em meditação, mas você realmente não meditou, e então você se queixa de que nada tem acontecido com você. Não dê espaço para mente vagar quando você meditar, mas vá passo a passo no processo. Treine-se. Primeiro, preste atenção à sua postura. Aprenda a sentar-se corretamente. Faça a sua prática de forma sistemática. Em seguida, trabalhe para eliminar os obstáculos mentais e emocionais.

     Se meditadores sondaran os níveis internos de seu ser, explorando as dimensões desconhecidas da vida interior, e se eles aprenderam um método sistemático e científico que pode levá-los para o próximo estado de experiência, então eles podem ir além de todos os níveis de seu inconsciente  e estabelecer-se em sua natureza essencial.

Sons sem som

     Durante a meditação profunda, os antigos sábios ouviam certos sons chamados mantras. Na Bíblia, é dito que aqueles que têm ouvidos para ouvir ouve. Quando a mente se torna sintonizada, é capaz de ouvir a voz do desconhecido. Os sons que são ouvidos em tal estado não pertencem a uma determinada língua, religião ou tradição. De acordo com nossa tradição, que é uma tradição meditativa de mais de cinco mil anos de idade, mantra e meditação são inseparáveis, como os dois lados de uma moeda.

     Todas as tradições espirituais existentes do mundo usam uma sílaba, um som, uma palavra ou conjunto de palavras, chamando de mantra, como uma ponte para a travessia do atoleiro de ilusão e alcançar a outra margem da vida. Mantra é  a prática que ajuda o praticante a tornar a mente unidirecionada e para dentro, e, finalmente, leva ao centro da consciência, os recessos profundos de silêncio eterno onde a paz, a felicidade e a felicidade residem.

     Há sons que são criados pelo mundo externo e ouvido pelos ouvidos e sons ouvidos em profunda meditação. O último é chamado anahata nada. Sons interiores, que são ouvidos em meditação profunda pelos sábios, não vibram exatamente da mesma maneira como o som vibra no mundo externo. Eles têm uma qualidade de liderança. Eles levam o praticante em direção ao centro de silêncio interior. Imagine que você está em pé na margem de um rio e você ouve a corrente que flui. Se você seguir o rio, você chegará a sua origem. Lá, você vai achar que não há som. Da mesma forma, um mantra leva a mente para o silêncio interior. Esse estado é chamado de "som sem som."

     O mantra transmitido por um professor a um aluno é como uma receita dado a um paciente. Há inúmeros sons, cada um com um efeito diferente. O professor deve compreender que melhor combina com um aluno em particular, de acordo com as suas atitudes, emoções, desejos e hábitos.

     Um mantra tem quatro corpos ou koshas (bainhas). Em primeiro lugar, como uma palavra, ela tem um significado; uma outra forma mais sutil é o seu sentimento; ainda mais sutil é uma presença, uma consciência profunda intensa e constante do mesmo; e a quarta ou mais sutil nível do mantra é um som sem som.

     Muitos estudantes continuam repetindo seu mantra ou resmungando durante toda a sua vida, mas nunca atingir um estado de ajapa japa - esse estado de consciência constante, sem qualquer esforço. Estes estudantes reforçam a sua consciência, mas meditam apenas no nível bruto.

     Aqueles que vão para além desta fase de usar mantras especiais que não obstem e perturbam o fluxo de ar, mas ajudam a regular a respiração e levar a um estado em que a respiração flui através de ambas as narinas de forma igual. Neste estado a função de respirar e da mente estar em completa harmonia, criam um estado de espírito alegre. Quando os alunos atingem esse estado, a mente é voluntariamente desligado da dissipação dos sentidos. Então eles têm de lidar com os pensamentos vindo para a frente da mente inconsciente, um vasto reservatório em que temos armazenadas todas as impressões de nossa vida. O mantra nos ajuda a ir além deste processo, criando um novo sulco na mente, e a mente, em seguida, começa a fluir espontaneamente no sulco criado pelo mantra. Finalmente, quando a mente se torna concentrada, unidirecionado, e para dentro, ele olha de perto para a parte latente do inconsciente, e ali, mais cedo ou mais tarde, ele encontra uma luz resplandecente. Mantra é o meio. A meditação é o método.

     Na minha própria prática eu sento e observo todo o meu ser ouvir o mantra. Eu não me lembro o mantra ou fico repetindo o mantra mentalmente. Em vez disso, eu faço de todo o meu ser ouvidos para ouvir o mantra, o mantra está vindo de todos os lugares. Isso não vai acontecer com você imediatamente em meditação, mas quando você atingir alguma coisa, ele vai. Então, mesmo que você não quer fazer o seu mantra, não é possível evitá-lo. Mesmo se você decidir que você não quer se lembrar do mantra, não será possível. Finalmente, mesmo o mantra não existe; apenas o propósito para o qual você repetir o mantra está lá; você está lá. O mantra pode ainda estar lá, mas ele existe como uma experiência que supera todo o seu ser, e não está separado de vocês.

     O papel mais importante que mantra desempenha é durante o período de transição que todo ser humano vai experimentar. Os sentidos de uma pessoa moribunda não funcionam corretamente. Ele gradualmente perde o sentido da visão, a língua murmura palavras que não podem ser entendidos por outros, e ele é incapaz de expressar pensamentos da mente em discurso ou ações. Esta situação dolorosa e lamentável assusta a mente de um não-praticante. Mas se alguém se lembra do mantra por um longo tempo em tal estado de solidão, o mantra começa a levá-lo, e este período miserável de solidão e agonia acabam. O mantra torna-se seu líder. Apenas um padrão de pensamento é reforçado por lembrar o mantra, e quando ele está firmemente estabelecido que leva o indivíduo a sua morada de paz, felicidade e bem-aventurança.

A Arte de Viver Feliz

     Por isso, nunca desista! Aceitar a meditação como uma parte de sua vida, assim como você comer, dormir e fazer outras coisas; torná-lo seu objetivo de ter uma mente calma, ter uma mente unidirecionada, ter uma mente tranquila. Não desistir disso. Meditação deixa uma indicação clara em seu coração, o que se reflete em seu rosto. Quando as pessoas falam para mim, eu posso facilmente dizer se eles meditam ou não, ou mesmo se são capazes de meditação. O seu rosto é o índice do seu coração.

     Você pode alcançar o mais elevado estado de samadhi através da meditação. Quando chegar o dia em que cada homem, mulher e criança praticar meditação, todos nós alcançaremos a próxima etapa da civilização e perceberemos a unidade em todos. Libertação pode ser alcançado aqui e agora, e que a experiência é o objetivo final da vida humana.


Este artigo foi dividido em 3 partes para uma melhor leitura e entendimento!

Retirado e Traduzido em 13/07 de
https://yogainternational.com/article/view/meditation-is-not-what-you-think

Por Juliana Romera